segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Poema em Pseudo-Haicais

Forma original do poema vencedor do Prêmio Escriba de 2010

Ficou difícil de ler? Então aí vai uma versão alongada e legível em computador:
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Poema em Pseudo-Haicais
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Sete Chaves
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Todo segredo
esconde um saber
que esconde um medo.
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Desatino
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Loucas as rocas
que fiam destinos
e fiam-se neles.
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Atração
*
Forte maré alta:
a lua a tentar roubar
o mar que lhe falta.
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Revoada
*
As painas esparsas
despedem-se da paineira
qual bando de garças.
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Reflexo
*
Nuvem espessa
e as plantas no lago
de ponta cabeça.
*
É tarde!
*
Vento sonolento
assopra as últimas velas...
Apagam-se os barcos.
*
Inverno
*
Veloz vento frio
embala o prado ondulado
num contra-arrepio.
*

terça-feira, 21 de setembro de 2010

ALVORECER


Alvorecer

A noite se prolonga e o sol desperto
Espreita a lentidão da madrugada,
Senhora do silêncio mais incerto,
Por anjos e demônios cortejada.

Momento em que os segredos vagam perto
Das sombras relutantes da alvorada,
Encontram o portal do sonho aberto
E emboscam pensamentos pela estrada.

A leve luz, em breve, vem chegando.
Acendem-se lanternas cor de aurora,
Candeias pondo em fuga o sono brando.

Porém o próprio tempo se demora,
Parando para ouvir, de quando em quando,
Os velhos sons dos carrilhões de outrora.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Incertas Porcentagens


Olhar de peixe morto, jeito de quem não quer nada e uma insegurança dos diabos. O sedutor aprendiz se prepara. Leu num jornal que as manifestações de nervosismo atrapalham a conquista. Reduzem em 50% as chances de sucesso. Pede outra caipirinha e sente-se mais calmo, quase confiante.

Tem três cantadas na ponta da língua. Três das boas, irresistíveis. Tem também uns elogios, duas promessas, quatro confidências. Decorou tudinho, até as propostas atrevidas, meio atrevidas, sutis e quase sutis. Ai, essa não! Esqueceu as quase sutis! E agora? O que vai fazer se a moça for do tipo quase recatada? Calma, calma... Não deve ser. Uma quase recatada não lhe daria um tapa na cara. E aquela garota, às vezes, parecia querer esbofeteá-lo. Era do tipo selvagem.

Quarta ou quinta caipirinha, lembra que leu numa revista alguma coisa sobre o álcool. Ou foi num livro? Foi, foi num livro mesmo. Dizia que o álcool, bebido no gargalo, prejudica os dentes em 50%. Mas será que prejudica todos? No livro não estava escrito, mas devia prejudicar mais os da frente. Isso aí! 50%, os da frente... 40%, os de lado... e uns 20%, os do fundo.

Quando a quase recatada chega, ele já cantou, dançou, fez discurso e prejudicou seus dentes da frente ao cair desmaiado de boca na mesa.

Para a moça, no entanto, isso não importa. É uma sedutora aprendiz e tem outro na mira. Planejou cuidadosamente o que fazer. Primeiro um olhar de peixe morto. Depois... %... %...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Viajante


Com carinho, para os amigos do Twitter.

Viajante

Viagens muitas fiz cruzando os mares.
Por sorte, encontrei sempre um porto amigo
E muitas amizades invulgares,
Tornando-se saudade, vêm comigo.

Também serei teu porto se chegares
A procurar, em mim, seguro abrigo.
Serei presente enquanto desejares,
Depois, saudade sendo, irei contigo.

Prefiro viajar constantemente.
Aceito, em minha vida, quem souber
Partir e, mesmo assim, estar presente.

Não temo tempestade ou dor qualquer.
Fui náufrago. Hoje sou sobrevivente.
Destino? Aceito o vento que vier.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Premiação na ABL

Quinta-feira, 26 de agosto, marido ao volante, chegamos ao aeroporto de Viracopos, Campinas - SP, com uma hora e meia de antecedência. A ideia era deixar o carro em algum dos quatro estacionamentos.

Nada feito! Todos lotados! Depois que a Azul começou a operar mais de quarenta voos diários de Viracopos, o aeroporto tem engarrafamento de passageiros estressados disputando uma vaga aos buzinaços e xingamentos. A polícia mantém a desordem sob controle, multando e guinchando quem para onde não deve.

Apelamos para um estacionamento particular, longe do aeroporto e chegamos correndo ao portão de embarque.

Pra que tanta pressa? O avião também estava atrasado porque haviam derramado combustível nele durante o abastecimento no Rio, como nos informou a tripulação. "Demoramos para secar a aeronave", disseram.

"Mantenham as persianas abertas durante a decolagem!" pediam as comissárias.

"Por quê?" perguntei.

"Para nos informarem caso haja um principio de incêndio no exterior da aeronave."

"Ah, bom! Tá explicado."

Não houve incêndio. Houve suco de laranja, batatinha frita e goiabinha.

Descemos no Santos Dumont, pertinho da ABL.

Distância ABL-Aeroprto = R$ 10,00 com gorjeta pro motorista

Fomos os primeiros a chegar. Depois vieram o Eryck (com três amigos) e a Bíbi (com o marido).

Um bibliotecário apaixonado por seu trabalho guiou o grupo em uma visita à biblioteca. Seus livros raros e obras de arte compensam o tamanho relativamente pequeno. São vinte mil volumes exalando aquele perfume delicioso que todo rato de biblioteca adora: cheiro de livros!

A biblioteca é aberta ao público e auxilia em pesquisas.


O quadro "A Dama do Livro" pertenceu a Machado de Assis.

Escrivaninha de Olavo Bilac

Nós três microescritores demos microentrevistas à assessoria de imprensa enquanto o fotógrafo oficial pedia que não usássemos nossas câmeras, pois ele mesmo tiraria as fotos de todo o evento. E tirou muitas, com a máxima gentileza e atenção!

Depois da biblioteca, fomos ao chá.

O Acadêmico Marcos Vilaça, atual presidente da ABL, cumprimentando o Eryck,
na passagem para o salão de chá. Ao fundo, eu, meu marido e a Bíbi.


Chá com bolo inglês, bolo-de-rolo e outras delícias. À minha frente,
a Acadêmica Nélida Piñon, primeira mulher a presidir a ABL.

O Acadêmico Arnaldo Niskier, ex-presidente da ABL, entregando meu prêmio.

Após o chá, os imortais se retiraram para sua reunião particular. A Bíbi e o marido precisaram ir embora, mas o restante do grupo ficou com a Teresinha, relações públicas da ABL, para uma visita guiada pela academia.

As últimas fotos foram no exterior da academia, onde fica a estátua do Machado de Assis.


A estátua fica sobre um pedestal de aproximadamente dois metros de altura.

Às cinco da tarde, nos despedimos do Eryck e de seus amigos. Voltamos para Campinas, no voo das seis. Mais batatinhas, suco de pêssego light e cookies. Muito obrigada à ABL pelas passagens!