quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Nosso Modo de Existir

Áudio em http://swft.fm/a4wFRu


Nosso Modo de Existir

Se quer comprar uma casa,
Procure em outro lugar.
Aqui o silêncio gravou marcas nas paredes
Que não nos deixam dormir à noite.
Nem pense em morar junto ao lago de pedras,
Soluços rochosos com gosto de rio
Sonhando cavalos marinhos.
Os fantasmas empoeirados deste lugar
Precisam estar sozinhos
Para abrir os velhos vidros de perfume,
Encher seus rostos de talco
E dançar, dançar e dançar.
Não deixe que seu egoísmo
Venha a despertar o que não mais se quer.
Mas, por favor, não nos abandone,
Venha nos visitar,
É sempre bom ter sonhos.
E, após termos brincado, parta
E não retorne sobre seus passos.
Não nos traga de volta à vida
Porque nós, espíritos desta casa,
Não queremos mais morrer.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Aos Tímidos


Áudio em http://swft.fm/9U2gP7



Aos Tímidos

Não vou dizê-las
porque hoje faz frio
e as palavras são tantas
que ando tonto de escutá-las.

Não vou dizê-las
porque, antes de todas,
sou tímido,
diante do pensar,
sou tantos
que mal posso distinguir-me.

Porque as comportas da fala
não me cabem
e não me comporto bem
diante delas.

Porque o poema
traz, de graça, mais graça
que a conversa fiada
comprada com tédio.

Porque meus amigos
-- pessoas, poemas --
entendem meus cantos
e poucas palavras.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Redes Surradas


Redes Surradas

Quem quer ter idéias próprias?
Parece muito mais fácil
Comprá-las premeditadas,
Surradas antes de usar.

São vendas postas à venda,
Roubando aos nossos caminhos
As vertigens do possível,

Idéias esfarrapadas
Que se estendem como redes
Por baixo da corda bamba,
Aguardando um passo em falso.

Parecem suficientes?
Quem confia, um passo à frente!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Heresia

Heresia

Um pobre diabo
Na porta da igreja
Ressona maldades
E sete pecados

Inveja dos anjos
Redondos e loiros
Dormindo macios
Nas nuvens das santas

Orgulho de estar
Pertinho da porta
Tremendo de medo
No alto da escada

Que a noite é um quarto
Escuro e fechado
Onde anjos rebeldes
Se afagam e assustam

E estando bem juntos
Na ira e na fome
Parecem maiores
Às portas de Deus

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Fotografia

Fotografia

As plumas de seu chapéu
Não sabem dizer do vento.
Souberam, não sabem mais.
Viveram do azul intenso
Aberto a todos os seres
Que podem ou não voar.

As peles desnecessárias
De seu conforto ostensivo
Não sabem dizer da luz.
Souberam que a luz é vida,
Que, mesmo à noite, perdura
Em olhares luminosos
Espalhados pela mata.

Os povos além da História
Não podem mais lhe falar.
Viraram fotografia
Como você vai virar.
Sorria!