QUASE SERIAMENTE
A Ciência é cheia de ziguezagues e verdades parciais provisórias. Faz testes em roedores e aplica os resultados em humanos. Faz testes em humanos e aplica os resultados na Bolsa de Nova York.
Vive mudando de ideia. O mesmo sujeito que descobriu a cura da fadiga pós-pileque através dos comprimidos de carambola volta à televisão e desmoraliza os fabricantes da droga. Diz que o medicamento não funciona e que, em altas dosagens, pode até causar tendinite, pois a embalagem é dura de abrir.
Alvoroço geral: congressos, simpósios e debate-bocas a respeito do tema "A Captação da Essência Carambolesca na Transmilenaridade Farmacológica"; usuários arrependidos pensando em readerir ao suflê de confrei em pó; camelôs apregoando a liquidação dos últimos frascos de "Carambola Pills®" importadas do Paraguai.
Quando a poeira baixa, saem novas pesquisas, desmentindo as antigas. Cai, novamente, o confrei e ressurge a carambolatria.
Desse modo, um cientista só consegue prestígio ao ser apontado como o redesdescobridor de nem ele sabe o quê.
Vejamos a questão da saúde. A TV mostra um pronto-socorro cheio de pobres, que resolveram passar mal logo naquele dia exato em que os médicos, os remédios e as ambulâncias estavam de férias. Surge a violenta tele-indignação popular. Ultrajado, o espectador quer vingança, clama por ela, mas vai se acalmando enquanto assiste à matéria seguinte: a câmera trepidante mostra o PM Francelino Ferreira fazendo o parto de uma balconista na fila de um caixa-rápido. Um repórter comovido diz que a mãe do bebê pretende batizá-lo como Cleyton Francelino e quer que ele seja médico de shopping center (profissão pra lá de moderna) quando crescer. Consumidores, sintam-se a salvo!
Enquanto o Francelininho não cresce, a balbúrdia na saúde passa bem. Chovem ideias, nada se aproveita. Baixos salários? Corrupção? Despreparo? Privatizar? Re-estatizar? Explodir de vez?
Se vale qualquer palpite, sugiro a criação do "Pronto-Socorro de Autoatendimento" ("Pronto-Me-Socorro", para os íntimos).
No pronto-me-socorro, casos bobos como tiros de raspão, mordidas de animais de boca pequena, flechadas, envenenamentos e fraturinhas simples seriam tratados pelo próprio infeliz que sofre com eles.
Para você resolver sozinho essas insignificâncias, haveria toda a estrutura necessária. Por exemplo:
- farmácia self-service, com setor para degustação de novos lançamentos;
- sistema "drive-thru" para fraturados, começando pela radiografia, passando pelo engessamento automático e terminando na máquina de assinaturas, onde seu gesso novinho receberá autógrafos e dedicatórias de seus astros preferidos;
- sala de auto-observação, com espelho no teto e maca redonda opcional.
O transporte do paciente ficaria também por sua própria conta. Em caso de emergência, o estrebuchante motorizado colocaria, no teto de seu carro, um sinalizador luminoso igual aos das ambulâncias e sairia feito doido, com a sirene ligada.
Ainda restam dúvidas sobre os casos de omissão de socorro, negligência e imperícia. Se você demorar para se atender, tratar-se com descaso e fizer um serviço porco, deve ser punido? Deveria ter sua licença de automedicação cassada? Eu acho que depende. Se sobreviver, talvez deva.
Cara CArla Ceres
ResponderExcluirElogia-la é chover no molhado mediante tantos prêmios conquistados.
Nós piracicabanos devemos no orgulhar em tê-la como nossa representante na cidade chamada de "ATENAS PAULISTA"
ELDA NYMPHA
Muito obrigada, Elda! Eu que me sinto orgulhosa por sua presença no blog e pelo carinho do pessoal de Pira. Beijos!
ResponderExcluirTextos belíssimos os seus, Carla! Percebe-se facilmente a sua facilidade em cativar o leitor. O mais importante é que você usa um vocabulário rico mas popular, não obrigando a mim, leitor inculto, a servi-se do dicionário o tempo todo. Li todas as suas crõnicas do blog, todas nuito boas. Li também sua biografia no blog "biografias-bibliografias" e quanto reconhecimento, Carla! É um prêmio inesperado tê-la a ler minhas crônicas.
ResponderExcluirMuitíssimo grato, querida!